REFLETINDO A PALAVRA
§ 1ª Leitura: Números 6,22-27
§ Salmo Responsorial: 66(67)
§ 2ª Leitura: Gálatas 4,4-7
§ Evangelho: Lucas 2,16-21
Na Maternidade de Maria, sempre Virgem, o caminho para a paz.
Junto à festa da maternidade de Maria, a Doce Mãe de Deus, a Igreja celebra em consonância com a sociedade civil, o Dia Mundial da paz. Em sua 44ª edição, sob o tema: “Liberdade Religiosa, caminho para a paz”, a proposta de se dedicar este dia às orações pela conquista da paz em sua plenitude, torna-se atual, ao mesmo tempo em que remonta ao pontificado do Papa Paulo VI, que expressa em sua mensagem de 08 de dezembro de 1967 esta sua vontade:
“Dirigimo-nos a todos os homens de boa vontade, para os exortar a celebrar o ‘Dia da Paz’, em todo o mundo, no primeiro dia do ano civil, 1 de Janeiro de 1968. Desejaríamos que depois, cada ano, esta celebração se viesse a repetir, como augúrio e promessa, no início do calendário que mede e traça o caminho da vida humana no tempo que seja a Paz, com o seu justo e benéfico equilíbrio, a dominar o processar-se da história no futuro” (Pp Paulo VI, 08 dez 1967).
Agora, em sua mensagem no dia 08 de dezembro de 2010, dia em que celebramos 156 anos da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, o Papa Bento XVI, dando continuidade a esta tradição, reflete acerca do testemunho do qual o mundo revestido, mais do que nunca, da intolerância religiosa, exige daqueles que fazem do caminho do Cristo sua opção definitiva; denuncia o ataque à Catedral Siro-Católica de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Bagdá, capital do Iraque, no dia 31 de outubro deste ano que se encerra, resultando o assassinato de dois sacerdotes e mais de cinquenta fiéis leigos, no momento em que celebravam a Santa Missa. Considerando que tal acontecimento fere um dos direitos naturais do ser humano, o de expressar livremente sua fé e de participar efetivamente de sua religião, ou mesmo de não participar de religião alguma, a liberdade religiosa contempla um dos dois princípios fundamentais da vida: a espiritualidade; tornada reconhecida pela razão, o segundo princípio; sendo este reconhecimento o que nos permite viver nossa transcendência, ou seja, nossa relação de amor com Deus, o Criador; de fato, nenhum outro ser vivente está capacitado a este relacionamento de graça, justamente pela falta da razão.
“Por isso, toda a pessoa é titular do direito sagrado a uma vida íntegra, mesmo do ponto de vista espiritual. Sem o reconhecimento do próprio ser espiritual, sem a abertura ao transcendente, a pessoa humana retrai-se sobre si mesma, não consegue encontrar resposta para as perguntas do seu coração sobre o sentido da vida e dotar-se de valores e princípios éticos duradouros, nem consegue sequer experimentar uma liberdade autêntica e desenvolver uma sociedade justa” (Pp Bento XVI, 8 dez 2010)
Entretanto, tal experiência, jamais poderia ser fruto de uma imposição, por outro lado, também não se poderia negar o direito a qualquer pessoa, de relacionar-se com sua fé, de maneira livre e pessoal, utilizando-se tanto para um quanto para o outro, métodos violentos e de coação.
O sim de Maria em resposta ao projeto de salvação, proposto pelo anjo, é um exemplo a ser seguido, tanto pelos ministros, ordenados ou não, da Igreja, quanto por nossas comunidades; o serviço autêntico e gratuito é consequência natural de uma entrega consciente e madura de fé, surgida de uma relação profunda e pessoal com Deus; se não se pode fazer esta experiência com plena liberdade, o serviço, a entrega e o testemunho ficam prejudicados e o projeto do Reino, uma sociedade mais justa e fraterna torna-se um projeto para a posteridade, uma utopia impossível de se realizar no nosso tempo. E é deste serviço ao outro que proverá a paz; como fruto da justiça; não pode ser justa uma sociedade ancorada no individualismo e no laicismo moderno, o qual ignora a existência de Deus e impede as criaturas de testemunhá-la, ou ao contrário, obriga-os a confessar uma religião por imposição, a fim de sutilmente implementar projetos políticos, os quais visem a manutenção do quadro de exclusão e exploração por meio de um jugo que deteriora a integridade da pessoa humana, dotada de fé e razão.
Bênção e paz são dons de Deus, que Ele nos concede por intermédio das orações que a Ele dirigimos (cf. Nm 6,22-27). Deus, com seu coração simultâneo de Pai e Mãe, nos concede, não somente aquilo que pedimos de mais imediato, nos concede também, seu próprio Espírito, tornando-nos suficientemente capazes de a Ele nos entregar e servi-Lo, no outro, ainda que o caminho seja o do martírio. Evidentemente, nossa luta diária deve estar ordenada à instituição da plena paz, onde o respeito à liberdade de cada pessoa, indiscriminadamente, seja uma realidade em todas as entranhas da sociedade.
Que nossas ações estejam em consonância com as ações do serviço à vida, testemunhadas por Maria e José; ela por possibilitar que viesse ao mundo a “Luz Eterna” (cf. Prefácio da Maternidade da Virgem Maria) e com esta luz, a possibilidade da paz duradoura, e ele, por acolher a manifestação divina, oferecendo seus braços protetores de pai ao próprio Deus.
Oremos para que neste mundo, a paz torne-se realidade, se ainda não plena, configurando-o ao Reino celeste, ao menos nas mentes e corações daqueles que um dia se consumiram para testemunhar o Evangelho.
Doravante façamos como Maria, que na humildade de seu sim, “guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19), porém, sem deixar de servir, de testemunhar.Um santo e feliz ano novo!