REFLEXÃO
DA PALAVRA
XXIV
DOMINGO DO TEMPO COMUM
PRIMEIRA
LEITURA: Eclesiástico 27,33-28,9
SALMO
RESPONSORIAL: 102/103
SEGUNDA
LEITURA: Romanos 17,7-9
EVANGELHO:
Mateus 18,21-35
O
PERDÃO É FONTE DE CURA E FELICIDADE TOTAL
Ainda esta semana refletia com Bernadete,
minha esposa, sobre a alegoria bíblica do barro e do oleiro, descrita pelo
profeta Jeremias (cf Jr 18). Neste antigo relato, o profeta reflete sobre a fragilidade
do povo nas mãos de Deus, tal como o barro que nas mãos do oleiro é moldado na
forma que ele mesmo quer, e que, se não atinge a perfeição imaginada, a forma é
desfeita para que se refaça o trabalho, tal como queira.
Poder-se-ia questionar sobre a relação
do barro com as leituras que temos neste XXIV domingo do tempo comum e a
princípio, poderíamos notar que, em quase nada se relacionaria, no entanto,
podemos refletir sobre a flexibilidade que o barro tem de ser moldado, quantas
vezes forem necessárias até que se torne uma peça perfeita, assim também somos
nós; Deus nos molda até atingirmos a perfeição; cada dia é uma oportunidade de
recomeçar, de restaurar, de reabilitar; podemos nos considerar não como um
produto acabado, mas em permanente construção.
Aquele que se considera acabado, corre o
risco de no seu orgulho se considerar auto-suficiente, e consequentemente
endurecer o coração, ou seja, não sentir compaixão do outro, uma vez que não
precisa do outro para sobreviver na sociedade. Uma pessoa assim torna-se rija,
não no sentido de robusta, vigorosa e forte, mas de inflexível, dura e resistente;
enquanto barro, podemos ser moldados, mas enquanto vaso não, este por ser
resistente, rijo, se quebraria. Ora procure endurecer-se e verá que a conversão
será muito mais sofrida, dolorosa; a humildade, sinal de flexibilidade e não de
fragilidade é o que torna a conversão, isto é, a mudança radical de pensar e de
agir, muito mais fácil.
O perdão nada mais é do que um exercício
de humildade, através do qual podemos avaliar nossa capacidade de amar o outro;
não digo nem do próximo, para não confundir com o amigo ou parente que seja
próximo, mas do outro, o qual pode ser um estranho, que por alguma razão
qualquer tenha nos ofendido, ou não. Por outro lado, a negação do perdão, sinal
de enrijecimento é bastante prejudicial, não a quem se nega o perdão, mas a nós
mesmos, (cf. Eclo 27,33); contrariamente ao que pensamos, é tão prejudicial à
nossa saúde física mesmo, que até o pecador tenta dominar suas raízes: o rancor
e a raiva, conforme relata a primeira leitura.
Esta relação entre a falta de perdão e
nossa saúde, nos é confirmada pelo salmista: “Pois ele (Deus) te perdoa toda a culpa e cura toda a sua enfermidade” (Sl
102/103,3); ora, se Deus, de fato, nos perdoa na proporção em que perdoamos,
inclusive conforme recitamos na oração do Pai Nosso (“...E perdoai as nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido”), então, poderemos ser curados das nossas enfermidades (doenças),
perdoando o outro. Em outras palavras, conforme é nossa capacidade de sermos
flexíveis, tal como o barro nas mãos do oleiro – lembrem-se do ato da criação
do homem a partir do barro – por meio do exercício do perdão, não guardando
ressentimentos no coração, poderemos viver uma vida sem sofrimentos. E quantos sofrem
anos e anos ressentindo – repetindo suas queixas e guardando, eternamente o
rancor (cf. Sl 102/103,9) – ofensas das quais até mesmo o agressor já esquecera
a tempos, quem de fato sofre mais o agressor ou a vítima? Sem dúvida é a vítima
que continua sendo vítima, enquanto não for capaz de perdoar.
Deus mesmo nos ensina com seu próprio
testemunho, leia novamente o versículo nove do salmo de hoje (acima referido),
é Ele quem age com perdão naturalmente e não nós, a iniciativa do perdão é
Dele; o perdão está intrínseco a sua essência – “Deus caritas est” –, no
entanto, paradoxalmente nós, e não é raro, O consideramos radical, cruel; basta
lermos o Evangelho de forma superficial para formamos uma idéia equivocada do sentido
que se quer dar – leia o artigo “os perigos de uma leitura superficial” em http://www.catequisar.com.br/texto/materia/biblia/geral/12.htm
–. Deus não é cruel, tampouco rigoroso, nossa forma de viver é que está distante
de seus propósitos, e não queremos renunciar aos privilégios que a vida moderna
nos oferece, também não queremos nos tornar maleáveis; para nós perdoar
infinitamente o outro é uma desonra, sinal de fraqueza e de inferioridade; se
para Pedro, perdoar sete vezes era muito e suficiente, Jesus o e nos ensina que
se deve perdoar setenta vezes mais, é o mesmo que elevar à plenitude o
infinito.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
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