quinta-feira, 14 de abril de 2011

SERÁ QUE A VIDA É MESMO TRÁGICA, E NÃO TEMOS COMO ESCAPAR DISSO?


17/04/2011 – DOMINGO DE RAMOS – ANO A 

PRIMEIRA LEITURA (Is 50,4-7)

SALMO RESPONSORIAL (Sl 21/22)

SEGUNDA LEITURA (Fl 2,6-11)

EVANGELHO (Mt 27,11-54)


SERÁ QUE A VIDA É MESMO TRÁGICA, E NÃO TEMOS COMO ESCAPAR DISSO?

“A vida é trágica e não temos como escapar disso” (Gallo, 2003, p. 90). Acabei de ler o mito grego Édipo, o maldito, e a mensagem que se pode tirar desta leitura, é a triste constatação descrita nesta frase, que compartilho com os meus irmãos, nesta reflexão.
De fato, a tragédia faz parte de nossa vida, e todos nós devemos um dia enfrentá-la; sabemos que todos têm seu fim, e este fim é pessoal e intransferível, isto é não há como passar a tragédia, que é só minha, para outra pessoa. Este deve ser para cada um de nós, um momento de reencontro pessoal e ao mesmo tempo, com Deus; é esta a grande oportunidade de cura e salvação, que por Deus mesmo, é tornada possível para cada um de nós.
A novidade que se dá com o advento do mistério da Paixão, morte e ressurreição, plena revelação divina em Jesus Cristo, é a esperança na superação de nossa tragédia; a vida se faz presente também com a morte, e esta não mais encerra o ciclo de nossa vida, mas nos remete para uma nova e plena vida de eternidade, ou seja, de constante felicidade, se a comunhão com Deus, por meio de Jesus Cristo estiver mantida, ainda que na vida temporal, isto é, no mundo, o sofrimento e a morte nos pareçam predominar sobre a vida.
Dias atrás, na escola onde trabalho, uma aluna do 7º ano (antiga 6ª série), me perguntou: “Porque o Jesus de vocês (católicos) fica preso à cruz, morto?”. Achei muito interessante esta indagação, e minha primeira reação foi de lhe devolver com outra pergunta: Existe outro Jesus na sua igreja? Ela pensou e me respondeu: “Não tem outro Jesus na minha igreja, mas ele não está morto e preso na cruz!”. Acabei tendo de explicar à aluna que se acreditamos na ressurreição deste único Jesus e que com ele, também nós ressuscitamos, isto se dará por meio da morte, condição que não há como evitarmos, e este é o sentido da cruz, com o Cristo ainda suspenso. Todos nós teremos o nosso momento de profunda solidão, tal como Jesus experimentou no alto de sua cruz, em seu momento definitivo: “’Eli, Eli, lamá sabactâni?’ [...] ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?’” (Mt 27,46). Este questionamento feito por esta aluna, me fez refletir toda esta semana, sobre a situação a qual enfrentamos, não só nas escolas, mas em todos os níveis da sociedade, ou seja, a que estágio de degradação da vida e da fé nós chegamos com a banalização de nossas próprias vidas e com a vida do outro, justamente por acreditar na filosofia de que para o ser humano, não há outra possibilidade senão a de esperar seu fim, sua tragédia que inevitavelmente há de vir, uma alusão materialista de que o homem deve viver sua felicidade a qualquer custo no hoje e no agora.
A tragédia ocorrida em Realengo/RJ, deveria nos incomodar em nossa condição de católicos que dizemos ter, mas que nem sempre corresponde com as atitudes de nosso dia-a-dia. Nem sempre nos comprometemos com o Evangelho de Jesus Cristo, e com isso, acabamos deixando de testemunhar o amor, principalmente onde vemos que o desamor é que impera. Numa escola, por exemplo, comumente acuados, os católicos se omitem em dar testemunho da fé, por conta do discurso do estado laico, de que no convívio social, não há espaço para a subjetividade da fé, isto se torna muito mais grave quando observamos que grande quantidade dos professores se declaram católicos, ao mesmo tempo sentem-se despreparados para abordar o assunto fé, também preocupam os alunos, principalmente os que de alguma forma, tiveram o querígma; É sabido que, se não se aprende o correto, não falta quem ensine o errado, e obrigação do cristão é ensinar e ensinar o correto. Fé, amor ao próximo, ética solidária, fraternidade, acolhida, são formas de vida que deveríamos ensinar também nas escolas, e isto é uma missão para nós que como leigos, temos como campo de missão e testemunho, este mundo que já se encontra doente; assumindo nossa missão, talvez, tragédias como a ocorrida em Realengo, teriam sido evitadas simplesmente por se ter convencido o agressor a considerar Deus, tanto na sua vida, como na vida dos outros.

Feliz Páscoa a todos e a todas.

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