quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

01/01/2010 - MARIA: MÃE DE DEUS, SENHORA DA PAZ


REFLETINDO A PALAVRA

§  1ª Leitura: Números 6,22-27
§  Salmo Responsorial: 66(67)
§  2ª Leitura: Gálatas 4,4-7
§  Evangelho: Lucas 2,16-21

Na Maternidade de Maria, sempre Virgem, o caminho para a paz.
Junto à festa da maternidade de Maria, a Doce Mãe de Deus, a Igreja celebra em consonância com a sociedade civil, o Dia Mundial da paz. Em sua 44ª edição, sob o tema: “Liberdade Religiosa, caminho para a paz”, a proposta de se dedicar este dia às orações pela conquista da paz em sua plenitude, torna-se atual, ao mesmo tempo em que remonta ao pontificado do Papa Paulo VI, que expressa em sua mensagem de 08 de dezembro de 1967 esta sua vontade:
Dirigimo-nos a todos os homens de boa vontade, para os exortar a celebrar o ‘Dia da Paz’, em todo o mundo, no primeiro dia do ano civil, 1 de Janeiro de 1968. Desejaríamos que depois, cada ano, esta celebração se viesse a repetir, como augúrio e promessa, no início do calendário que mede e traça o caminho da vida humana no tempo que seja a Paz, com o seu justo e benéfico equilíbrio, a dominar o processar-se da história no futuro” (Pp Paulo VI, 08 dez 1967).
 Agora, em sua mensagem no dia 08 de dezembro de 2010, dia em que celebramos 156 anos da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, o Papa Bento XVI, dando continuidade a esta tradição, reflete acerca do testemunho do qual o mundo revestido, mais do que nunca, da intolerância religiosa, exige daqueles que fazem do caminho do Cristo sua opção definitiva; denuncia o ataque à Catedral Siro-Católica de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Bagdá, capital do Iraque, no dia 31 de outubro deste ano que se encerra, resultando o assassinato de dois sacerdotes e mais de cinquenta fiéis leigos, no momento em que celebravam a Santa Missa. Considerando que tal acontecimento fere um dos direitos naturais do ser humano, o de expressar livremente sua fé e de participar efetivamente de sua religião, ou mesmo de não participar de religião alguma, a liberdade religiosa contempla um dos dois princípios fundamentais da vida: a espiritualidade; tornada reconhecida pela razão, o segundo princípio; sendo este reconhecimento o que nos permite viver nossa transcendência, ou seja, nossa relação de amor com Deus, o Criador; de fato, nenhum outro ser vivente está capacitado a este relacionamento de graça, justamente pela falta da razão.
“Por isso, toda a pessoa é titular do direito sagrado a uma vida íntegra, mesmo do ponto de vista espiritual. Sem o reconhecimento do próprio ser espiritual, sem a abertura ao transcendente, a pessoa humana retrai-se sobre si mesma, não consegue encontrar resposta para as perguntas do seu coração sobre o sentido da vida e dotar-se de valores e princípios éticos duradouros, nem consegue sequer experimentar uma liberdade autêntica e desenvolver uma sociedade justa” (Pp Bento XVI,  8 dez 2010)
Entretanto, tal experiência, jamais poderia ser fruto de uma imposição, por outro lado, também não se poderia negar o direito a qualquer pessoa, de relacionar-se com sua fé, de maneira livre e pessoal, utilizando-se tanto para um quanto para o outro, métodos violentos e de coação.
O sim de Maria em resposta ao projeto de salvação, proposto pelo anjo, é um exemplo a ser seguido, tanto pelos ministros, ordenados ou não, da Igreja, quanto por nossas comunidades; o serviço autêntico e gratuito é consequência natural de uma entrega consciente e madura de fé, surgida de uma relação profunda e pessoal com Deus; se não se pode fazer esta experiência com plena liberdade, o serviço, a entrega e o testemunho ficam prejudicados e o projeto do Reino, uma sociedade mais justa e fraterna torna-se um projeto para a posteridade, uma utopia impossível de se realizar no nosso tempo. E é deste serviço ao outro que proverá a paz; como fruto da justiça; não pode ser justa uma sociedade ancorada no individualismo e no laicismo moderno, o qual ignora a existência de Deus e impede as criaturas de testemunhá-la, ou ao contrário, obriga-os a confessar uma religião por imposição, a fim de sutilmente implementar projetos políticos, os quais visem a manutenção do quadro de exclusão e exploração por meio de um jugo que deteriora a integridade da pessoa humana, dotada de fé e razão.
Bênção e paz são dons de Deus, que Ele nos concede por intermédio das orações que a Ele dirigimos (cf. Nm 6,22-27). Deus, com seu coração simultâneo de Pai e Mãe, nos concede, não somente aquilo que pedimos de mais imediato, nos concede também, seu próprio Espírito, tornando-nos suficientemente capazes de a Ele nos entregar e servi-Lo, no outro, ainda que o caminho seja o do martírio. Evidentemente, nossa luta diária deve estar ordenada à instituição da plena paz, onde o respeito à liberdade de cada pessoa, indiscriminadamente, seja uma realidade em todas as entranhas da sociedade.
Que nossas ações estejam em consonância com as ações do serviço à vida, testemunhadas por Maria e José; ela por possibilitar que viesse ao mundo a “Luz Eterna” (cf. Prefácio da Maternidade da Virgem Maria) e com esta luz, a possibilidade da paz duradoura, e ele, por acolher a manifestação divina, oferecendo seus braços protetores de pai ao próprio Deus.
Oremos para que neste mundo, a paz torne-se realidade, se ainda não plena, configurando-o ao Reino celeste, ao menos nas mentes e corações daqueles que um dia se consumiram para testemunhar o Evangelho.
Doravante façamos como Maria, que na humildade de seu sim, “guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19), porém, sem deixar de servir, de testemunhar.

Um santo e feliz ano novo!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

DIA 25/12/2010 – NOITE DE NATAL DO SENHOR JESUS – ANO A


REFLETINDO A PALAVRA

§  1ª Leitura: Isaías 9,1-6
§  Salmo Responsorial: 95(96)
§  2ª Leitura: Tito 2,11-14
§  Evangelho: Lucas 2,1-14 





“DEUS SE FAZ HUMANO PARA NOS TORNAR DIVINOS” [1]
Não há o que dizer da imensa graça redentora que Deus concede a toda a humanidade, antes errante, pela própria opção de se aventurar no pecado da soberba, ou seja, de querer tornar-se Deus, agora restaurada, esta mesma humanidade pode, por meio da encarnação, morte e ressurreição do próprio Deus que se torna homem pelo nascimento de um indefeso menino, comungar desta mesma graça; a todos, Deus nos quer santos, tal como Ele é. Para isto mesmo é que quis viver nossa dura vida, esgotando-a na cruz. Antes, porém, para que tudo isso aconteça, dependerá dos cuidados e da proteção de seus pais: Maria e José; a família, eis o espaço onde Deus inicia a realização de sua obra de salvação.
Nesta santa noite é anunciado solenemente o Natal, não como uma simples celebração de aniversário de Jesus, mas como a própria encanação do Cristo Salvador da humanidade, a plenitude da manifestação de Deus em nossa realidade, nem sempre favorável a promoção da vida. Tal anúncio deve nos fazer refletir sobre esta primeira revelação, ao mesmo tempo em que se firma uma verdadeira e feliz esperança na segunda manifestação do Cristo, a qual teologicamente se denomina “Parusia”; esta nos remete diretamente à nossa escatologia, ou seja, ao fim da nossa história no tempo e no espaço. E isto deve ser motivo de conversão, pois este fim está relacionado ao juízo de nossa prática. Observando os acontecimentos, os sinais dos tempos, podemos concluir que se faz urgente esta conversão.
O próprio Deus nos dá sinais que nos indicam por onde começar este processo de conversão e construção de seu Reino: o nascimento do Cristo na simplicidade da manjedoura, sem reivindicar nada além do que o reconhecimento de sua dignidade divina, no seio de uma família humana, aquecido apenas pelo calor vindo das criaturas mais simples e humildes, e protegido pela contemplação e admiração dos poucos que compreendem e aceitam os desígnios do Senhor, são sinais que se atualizam em nossa história, e nos denuncia que, ao afastá-los de nossa forma de viver estamos construindo ao contrário de uma vida feliz e plena no nosso hoje, a nossa própria condenação, a possibilidade de viver eternamente sem Deus.
OREMOS: Ó Deus, que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz, concedei que, tendo vislumbrado na terra este mistério, possamos gozar no céu sua plenitude. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!

[1] Liturgia Diária. Ano XIX – nº. 228 – Dezembro de 2010 – Ano A. São Paulo: Paulus, 2010, p. 25.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

DIA 19/12/2010 – IV DOMINGO DO ADVENTO – ANO A

REFLETINDO A PALAVRA

·         1ª Leitura: Isaías 7,10-14
·         Salmo Responsorial: 23(24)
·         2ª Leitura: Romanos 1-1-7
·         Evangelho: Mateus 1,18-24 

DEUS QUE NASCE NUMA FAMÍLIA HUMANA: MÃE QUE SE ENTREGA... PAI QUE ACOLHE.

Passado o domingo da alegria, quando a criação percebe a proximidade da encarnação do Verbo Divino, a plenitude da manifestação de Deus na história humana, e por isso mesmo louva a Deus por sua imensa misericórdia para conosco, a Sagrada Liturgia testemunha agora a natureza humana da qual, o próprio Deus se reveste.

De fato, isto é um mistério que transcende a nossa limitada compreensão; como é possível Deus com toda a sua onipotência, onisciência, de tudo o Criador, puríssimo amor, resignar-se a viver no tempo e no espaço, a sofrer nossos sentimentos e sujeitar-se à tragédia ao mesmo tempo comum e individual a cada ser humano? Lembrem-se, somente este ser dotado de inteligência é capaz de ter consciência de seu fim, por isso mesmo, agindo com prudência, é capaz de muitas vezes adiá-lo, de viver mais; Jesus assume também esta condição e, instruído pelo Espírito do Pai, saberá entregar sua vida no tempo oportuno.

Antes será preciso que Deus conheça as entranhas da natureza humana, experimente ser homem; algo que na condição de Criador, Deus soberano, não conhecia, em decorrência do pecado original que provocara uma cisão no relacionamento entre Criador e criatura; Para que resgatasse esta relação filial, era necessário que de alguma forma em suas veias e artérias corresse sangue.

Maria tornar-se-á, então, a porta de entrada de Deus na humanidade; é unicamente seu sangue, uma vez purificado do pecado por sua Imaculada Conceição, que correrá nas veias de Jesus. Não há participação do gênero masculino na concepção do menino: “... antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo” (Mt 1,18); um sinal de Deus previsto nas profecias de Isaías, setecentos anos antes, quando consternado pela falsa humildade do rei Acaz, e sua fé vacilante (cf. Is 7,12), Deus o anuncia o nascimento de um filho a partir de uma virgem como sinal mesmo oferecido por Ele, sinal que Acaz não poderá recusar.
A Mãe de Deus de Kazan é um ícone religioso do Patriarcado de Moscou. Durante o período comunista na União Soviética o ícone esteve escondido e apareceu numa exposição nos Estados Unidos. Em 1993 a imagem foi confiada ao Papa e, em 2004, após a queda o regime comunista da Rússia, João Paulo II determinou a devolução do ícone ao patriarcado de Moscou. O ícone encontra-se reservado num mosteiro em Kazan capital da república do Tatarstan, terra de origem dos tártaros, na Federação Russa. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3e_de_Deus_de_Kazan – Acesso em 15 dez. 2010 às 19h25min.

Também nós não poderemos recusar a encarnação do Verbo Divino, tal acontecimento, não dependerá mais de nossa vontade; é o próprio Deus que se oferece definitivamente. A participação humana no plano da salvação estará doravante, na profunda e autêntica adesão às idéias e práticas de Jesus, é nisso que consiste ser “servo de Jesus Cristo e apóstolo por vocação” (Rom 1,1): aceitar e obedecer à vontade de Deus, colocando em prática seus ensinamentos, objetivando sempre o bem do outro, também esta é a participação de José, que assegura ao Cristo a descendência de Davi, mesmo sem a total compreensão dos acontecimentos, não deixa de ser justo, assumindo assim a posição de pai terreno.

Que o Natal de hoje, nos revele Jesus Libertador, mas também, pais e mães abertos ao amor, dispostos a promover a vida em sua plenitude a partir de uma concepção responsável. Que uma reflexão mais aprofundada sobre o Natal nos possibilite superar a valorização excessiva do “eu”, a busca desenfreada do ter e do prazer que destrói sobremaneira a fraternidade. Somente assim se construirá pessoas plenas em dignidade e consequentemente uma sociedade justa e feliz.
OREMOS: Derramai, ó Deus, a vossa graça em nossos corações para que, conhecendo pela mensagem do anjo a encarnação do vosso Filho, cheguemos por sua paixão e cruz, à glória da ressurreição. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

DIA 12/12/2010 – III DOMINGO DO ADVENTO – ANO A

REFLETINDO A PALAVRA

·         1ª Leitura: Isaías 35,1-6a.10
·         Salmo Responsorial: 145(146)
·         2ª Leitura: Tiago 5-7-10
·         Evangelho: Mateus 11,2-11 

AJUDA MUITO, QUEM NÃO ATRAPALHA A CONSTRUÇÃO DO REINO DE DEUS NA SOCIEDADE.


A terra “deserta e intransitável” da qual o profeta Isaías se refere, não é tão somente a terra imersa no pecado, motivo pelo qual, Deus lhe havia retirado a bênção, tornando-a estéril e seus habitantes errantes, entregues à morte. É antes que um simples local, o momento da plena revelação da misericórdia divina: Deus dispõe seu coração, sobre a miséria humana.
A história testemunha que é na barbárie, na crise aguda, que ressurge a vida, e é nesta lógica que o discurso do profeta toma corpo: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele quem vem nos salvar” (Is 35,4); é um discurso profético, quase apocalíptico, dado a condição miserável que se encontra o povo, terreno propício para a manifestação da graça divina. A diferença é que, para o profeta, ainda há a possibilidade de mudança por meio da conversão, a qual resulta, sobretudo, na cura física: os olhos que voltam a enxergar, os surdos que voltam a ouvir, os coxos que voltam a pular; condições que expressam a dignidade humana renegada, em tempos de opressão, quando não é dado ao povo, o direito de ver, ouvir, falar e agir.
Sob esta conjuntura desfavorável à liberdade e, portanto, ao desenvolvimento do Reino de Deus, ou seja, a uma sociedade plenamente justa e fraterna, Tiago, após fundamentar a opção preferencial pelos pobres, nos versículos anteriores de sua carta, exorta aos que se encontra em estado de opressão, que tenham confiança no poder de Deus. Confiar não por meio de uma espera passiva, mas, assumindo uma luta perene de conversão e mudança de vida: “Não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados” (Tg 5,9); aqui está a chave da libertação, não conquistada por conta da murmuração, que nos enfraquece e nos mantém na condição de oprimido, ao contrário, a comunhão nos une e nos fortalece, somente assim somos capazes de lutar contra todas as formas de injustiça social. 
Pobreza e religião: São Francisco de Assis renuncia aos seus bens terrenos numa pintura atribuida a Giotto di Bondone. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pobreza>. Acesso em 08 de dez. 2010 às 22h28min.
O projeto da salvação ultrapassa inclusive nossas limitações: “João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras de Cristo” (Mt 11,2); tais obras têm por finalidade última revelar a manifestação de Deus entre os homens – Emanuel, Deus conosco. Em meio a nossa miséria, Deus já se faz presente e restaura as nossas forças, devolvendo-nos a dignidade de filhos amados do Pai, por isso podemos novamente erguer nossa cabeça e lutar pela vida, pois agora, isso vale a pena... É disso que depende a nossa salvação. Doravante, são os pobres, mesmo, agentes de sua própria transformação: “... Os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis” (Mt 11,8), e não terão a mínima pretensão de promover a justiça, pois isso implica perder privilégios; a evangelização urge dos pobres e para os pobres, ou seja, os desprovidos de privilégios, muito embora a todos esteja garantida a salvação. Escandalizar-se com a nova realidade de justiça, propiciada pela idéia da implantação do Reino, é opor-se à vontade de Deus, atrapalhando o desenvolvimento de sua obra.
Por maior e mais importante que seja uma determinada pessoa neste mundo, a dinâmica do Reino exige uma radical mudança de comportamento, pois exige de cada um de nós, um espírito desprovido de tudo o que aprisiona o homem: medo, insegurança, vaidade, orgulho, auto-piedade e assim por diante, são sentimentos que nos impossibilita o nascimento do Cristo e impede que a graça de Deus aconteça no agora de nossa vida.
OREMOS: Ó Deus de bondade, que vedes o vosso povo esperando fervoroso o Natal do Senhor, daí chegarmos às alegrias da salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene liturgia. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

REFLEXÃO DA PALAVRA: DIA 05/12/2010 – II DOMINGO DO ADVENTO

LITURGIA DA PALAVRA: 
  • 1ª Leitura: Isaías 11,1-10
  • Salmo Responsorial: 71(72)
  • 2ª Leitura: Romanos 15,4-9
  • Evangelho: Mateus 3,1-12 

“... ACOLHEI-VOS UNS AOS OUTROS, COMO TAMBÉM CRISTO VOS ACOLHEU” (Rm  15,7).

O Batismo de Cristo, quadro de Andrea del Verrocchio e Leonardo da Vinci que mostra São João Batista batizando Jesus Cristo. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Batista>. Acesso em 03 Dez. 2010.
Neste Segundo Domingo do Advento, a tônica da Liturgia é o acolhimento, fruto imediato da verdadeira conversão e adesão ao Evangelho de Jesus Cristo, do qual, João Batista é o precursor, aquele que na missão de profeta, prefacia aos acontecimentos que estão por vir: a plenitude da manifestação de Deus na história humana.


No plano da Salvação, não há como dissociar a teoria da prática; toda a Palavra converge à ação. Dizia-me sempre um amigo: "A oração é composta pelas expressões 'orar' e 'ação'". Aos dons do Espírito Santo, manifestados em nossa natureza pela ação da Palavra de Deus, deve-se resultar a prática de uma renovada justiça; aquela que, ao invés de negar a dignidade da pessoa humana e assim, excluí-la do meio, seja na comunidade de fé ou noutros campos da sociedade, torna-se capaz de acolher o outro, ainda que nos seja diferente.


Por meio de um discurso messiânico, Isaias nos apresenta um novo lider, tal como um “rebento de uma flor” (v. 1), que saberá como nenhum outro, governar com justiça, por que advém do próprio Deus e por isso, ungido com Seu Espírito. É dele que dependerá a justiça e consequentemente a paz entre os homens, tal como nos relata o salmista na Sagrada Liturgia: “Nos seus dias, a justiça florirá e grande paz, até que a lua perca o brilho” (cf. v. 7). Se ainda não conseguimos fazer reinar a justiça e a paz em nosso meio, é por que teimamos em confiar em lideranças que não abrem o coração e a mente à instrução da Palavra, da qual Paulo se refere aos Romanos (cf. 15,4); lideranças que se excomungam do pensamento e do exemplo daquele que se fez verdadeiro líder, Jesus Cristo, o qual, por meio do serviço gratuito, levado às últimas conseqüências de sua vida, restituiu-nos a dignidade de filhos de Deus, nossa plena felicidade. Qual líder de nossas sociedades neste mundo é capaz de tamanha atitude, a de entregar a própria vida pela felicidade de seu povo? O comum é encontrarmos líderes que preservam antes a sua vida enquanto o povo morre a míngua das necessidades mais básicas. A estes ainda está por nascer o Deus Menino, o Natal não aconteceu, e se assim continuarem, não será uma realidade, antes, uma fantasia; e não se pode dizer que estes são casos perdidos, pois, “até mesmo destas pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão” (Mt 3,9).

João Batista pede a conversão de mentes e corações, como única forma de se efetivar o tão sonhado por Deus, Seu Reino, inaugurado com a encarnação do Verbo; o maior batismo, o do Espírito, surgirá a partir de uma profunda adesão a este projeto, e aquele que o receber não será purificado na água, mas no fogo, visto que, a água lava enquanto o fogo calcina e assim purifica, por isso mesmo é capaz de transformar a nossa dura realidade em esperança de felicidade.

Giampietrino. A Virgem Amamentando o Menino e São João Batista Criança em Adoração, c. 1500-20. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Batista>. Acesso em 03 Dez. 2010.
“Bendito seja o Senhor Deus de Israel, o único que faz maravilhas! Bendito para sempre seu nome glorioso, e que sua glória encha a terra! Amém, amém” (Sl 71, 18-19).

OREMOS: Ó Deus Todo-Poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

REFLEXÃO DA PALAVRA: I DOMINGO DO ADVENTO - 28/11/2010

REFLETINDO A PALAVRA

1ª Leitura: Isaías 2,1-5
Salmo Responsorial: 121(122)
2ª Leitura: Romanos 13,11-14
Evangelho: Mateus 24,37-44 

KAYRÓS: “HORA DE DESPERTAR” (Rm  13,11)

Atentar aos sinais dos tempos está bem além de uma simples e superficial inteiração dos fatos extraordinários que se transmitem de forma sensacionalista na mídia atual. A simples posição de expectador é insuficiente para que se forme um cidadão pleno, com condições de absorver a informação recebida e emitir juízo destas informações, dos acontecimentos de nossa história, ou seja, discerni-los como sinais dos tempos.
A leitura de Isaías irá resgatar a temática da paz, não a paz no seu sentido reduzido de tranqüilidade, de não compromisso com o outro, mas o “shalom”, a paz na sua plenitude. Aqueles que se dizem convertidos a Deus, deve lutar por uma cultura de paz, de não violência e de promoção à vida, em primeiro plano à vida do outro; a minha vida deve ser instrumento de libertação, por isso o Senhor lembra àquele que, querendo preservar sua própria vida irá a perderá (cf. Mt 10,39.16,25; Mc 8,35; Lc 9,24.17,33), ao mesmo passo que, Isaías nos propõe transformar as armas em instrumentos de trabalho (Is 2,4). No mundo civilizado, não deveria mais ter espaço para atitudes como a das duas Coréias, apesar de divididas do ponto de vista da Ideologia política, ainda são parte de um mesmo povo, de uma mesma etnia; atitudes como esta, sem querer fazer apologia a qualquer dos lados, revelam a humanidade ainda no pecado e distante do Criador, ainda impregnada de soberba, considera-se maior do que Deus.

O Arcanjo Gabriel anuncia à Santa Maria que ela conceberá e dará luz a Jesus de Nazaré, Filho do Altíssimo. Arte sacra cristã: Pintura em madeira por Robert Campin, c. 1420-1440, Bruxelas. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Advento - Acesso em 25 Nov. 2010 às 07hs27min.
Por isso mesmo, a exortação de São Paulo: “... pois já é hora de despertar” (Rom 13,11), lembrando a referência a Isaias (26,19.60,1), também presente na Carta aos Efésios (5,14): “Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará”. Há uma preocupação latente com o despertar da fé a partir do discer2nimento acerca dos últimos acontecimentos, os quais apontariam para um fim escatológico, ou seja, para o juízo final. Mas antes de pensar no fim, o cristão deve optar por uma vida de radical seguimento ao Evangelho, o qual, por sua vez, reforça este apelo à preparação do inevitável: a hora em que o Filho do Homem virá. Cristo, o Verbo Divino que se encarna, fazendo-se homem, conforme Santo Irineu: “para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo, assim, a filiação divina, se torne filho de Deus” (Adv. Haer., III,19,1 in CIC-460). Com a manifestação do Cristo, os homens tende a ser cristianizados, mediante a livre escolha no seguimento e uma relação de profunda amizade com Ele.
Oremos: Ó Deus todo-poderosos, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos a sua direita na comunidade dos justos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Um ótimo Advento a todos!

sábado, 20 de novembro de 2010

REFLEXÃO DA PALAVRA

DIA 21/11/2010 – DOMINGO - CRISTO, REI DO UNIVERSO. 
  • 1ª Leitura: 2 Samuel 5,1-3
  • Salmo Responsorial: 121 (122)
  • 2ª Leitura: Colossenses 1,12-20
  • Evangelho: Lucas 23,35-45
“JESUS, LEMBRA-TE DE MIM QUANDO ENTRARES NO TEU REINADO” (Lc 23, 42)
A Sagrada Tradição atesta o nome de Dimas para o “bom ladrão”. Fato é que não existe pecado bom; o pecado imprime como consequência direta, a cisão definitiva entre Deus e o homem pecador, já que Deus não coexiste com o pecado.
O que então, leva Jesus a prometer a salvação a Dimas? “... Ainda hoje estarás comigo no paraíso” (v. 43).
A condição de estar pregados, cada qual a sua cruz é uma só, o pecado; diferentemente da condição de Jesus, condenado não por seus pecados, já que a própria autoridade romana não lhe tinha reconhecido nenhuma culpa, é de que os malfeitores que tinham sido crucificados, ao lado esquerdo e direito de Jesus eram responsáveis por seus próprios pecados, e isso era fato consumado e sabido; a morte certa seria fruto do pecado realizado em vida.
A novidade se apresenta, porém, na misericórdia concedida a Dimas justamente por compreender que a justiça estava sendo realizada por meio da condenação que sofrera, mas não somente isto; Dimas expressa uma profunda atitude de resignação, ao mesmo tempo em que questiona a condenação de Jesus: “Para nós é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele nada fez de mal”. No alto de sua cruz, Dimas reconhece não somente sua pequenez e miséria, mas, sobretudo a grandeza do gesto de Jesus que inocente, se entrega como vítima expiatória, para a salvação dele e de todos os que o seguirem: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reinado”.
Contemplando o sofrimento de Jesus, Dimas compreendeu que o reino já havia sido instaurado e que o próprio Jesus assumira a condição de Rei supremo. A resposta não seria outra; Jesus é incisivo, do alto da cruz dá uma lição à humanidade que não reconhece o senhorio do Cristo, esta, representada na pessoa do outro crucificado e de todos aqueles que O ridicularizavam.
A possibilidade de se lembrar de alguém está intrinsecamente relacionada ao conhecimento deste alguém, e, conhecer, é pressuposto do ato de amar: só se ama a quem se conhece; Dimas amou Jesus no cume de seu justo sofrimento, e Jesus não o desamparou, retribuiu o amor recebido, restabelecendo-lhe a íntegra dignidade de Filho de Deus e restaurando-o do pecado, sem que para isso tivesse de livrá-lo do sofrimento, e isso, é próprio de Deus, é próprio de um verdadeiro Rei.

Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino!!!
Oremos: Senhor nosso Deus, fazei que a nossa alegria consista em vos servir de todo o coração, pois só teremos felicidade completa servindo a vós, o criador de todas as coisas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na Unidade do Espírito Santo.
Fraternal abraço e um santo domingo a todos e todas.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

AREÓPAGO: LUGAR DE ENCONTRO ENTRE A FÉ E A RAZÃO.

Na segunda fase que seguiu ao surgimento do Cristianismo, entre os anos 43 a 65 D.C. (depois de Cristo), a fase denominada apostólica, marcada, sobretudo, pela difusão do Evangelho por aqueles designados como testemunhas oculares da história da salvação, em especial, a primeira e segunda geração dos discípulos de Cristo, e consequentemente, da formação das primeiras comunidades cristãs, dado a partir do Concílio de Jerusalém (outono/51), o primeiro da história da Igreja, descrito no capítulo 15 de Atos dos Apóstolos, e que marca de forma sistemática a evangelização dos povos gentios, os de origem pagã, colocada sob responsabilidade do Apóstolo Paulo, que continuando sua missão evangelizadora, é levado a Atenas da Grécia, berço da do pensamento filosófico. Ali, é convidado, após ouvi-lo pregar na única sinagoga, a expressar suas idéias no “Areópago”, palavra deriva do grego: “ρειος πάγος“, tradução fonética: “Áreios Pagos”, um conselho de magistrados, antigo tribunal ateniense, que se reunia em uma colina do mesmo nome, instituído segundo a crença, pela deusa Atena, protetora da cidade, e por ela, consagrada a Marte. O Areópago era composto por sábios, magistrados, literatos, homens ilustres, membros da aristocracia ateniense, responsáveis pelos diversos aspectos do governo da cidade, inclusive, a condução das forças militares.

Paulo em Atenas
Segundo o relato bíblico o povo ateniense não se ocupava de outra coisa senão a de falar e ouvir as novidades, os pensamentos, e para isso se reuniam em praças públicas; o Areópago, além ser um tribunal em que se julgavam os delitos mais pesados como o assassinato premeditado, prescrevendo aos condenados a devida pena, e também uma instância de decisão do governo ateniense, pelo que parece , tornou-se também um fórum de debates aberto a novas filosofias e crenças, segundo o costume da população.

Julgamento de Sócrates (470-399 a.C.) no Areópago
Neste ambiente, Paulo argumenta sua fé num Deus monoteísta, único e soberano, apegando-se a uma pequena inscrição, em meio à diversidade de deuses: “A um Deus desconhecido” (At 17,23). Segundo Paulo este mesmo Deus, criador do céu de da terra, e que habita não em templos feitos por mãos humanas, mas em seu próprio ser. Este Deus que por amor ao homem envia seu próprio Filho para resgatá-lo do pecado e da morte, exige simplesmente a conversão e o arrependimento, e dá como garantia a ressurreição a todos os que seguirem o Cristo.


Pregação de Paulo aos Atenienses
A Idéia da ressurreição remete ao fracasso da missão de Paulo, que interrompido em seu discurso se afasta; interessante ser esta, a primeira vez que Paulo não é agredido por causa de suas palavras, apenas é convidado a se retirar do parlamento. O povo ateniense, fundado na perspectiva da razão, não concebia a possibilidade de um julgamento divino, superior ao já instituído, capaz de julgar seus atos e impor uma pena pelos delitos, os quais, Paulo apontava como idolatria.

Assim surge a idéia deste espaço, o de ser um fórum onde possamos argumentar sobre nossa fé, em meio à diversidade de opiniões, na grande maioria, fundada unicamente no racionalismo contemporâneo.

Por isso, queridos irmãos, este fórum também é seu, participe, dê sua opinião, questione. Seja também um evangelizador neste novo areópago.

Fraternal abraço.