sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

23/01/2011 – 3º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A (III Semana do Saltério)




DEUS NOS CHAMA À CONVERSÃO!


1ª Leitura: Isaías 8,23-9,3
Leitura do livro do profeta Isaías23bNo tempo passado o Senhor humilhou a terra de Zabulon e a terra de Neftali; mas recentemente cobriu de glória o caminho do mar, do além-Jordão e da Galileia das nações. 9,1O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. 2Fizeste crescer a alegria, e aumentaste a felicidade; todos se regozijam em tua presença como alegres ceifeiros na colheita, ou como exaltados guerreiros ao dividirem os despojos. 3Pois o jugo que oprimia o povo – a carga sobre os ombros, o orgulho dos fiscais –, tu os abateste como na jornada de Madiã. – Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial: 26(27)
O Senhor é minha luz e salvação./ O Senhor é a proteção da minha vida.
1.O Senhor é minha luz e salvação;/ de quem eu terei medo?/ O Senhor é a proteção da minha vida;/ perante quem eu tremerei?
2.Ao Senhor eu peço apenas uma coisa,/ e é só isto que eu desejo:/ habitar no santuário do Senhor/ por toda a minha vida;/ saborear a suavidade do Senhor/ e contemplá-lo no seu templo.
3.Sei que a bondade do Senhor hei de ver/ na terra dos viventes./ Espera no Senhor e tem coragem,/ espera no Senhor!
2ª Leitura: 1Cor 1,10-13.17
Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios10Irmãos, eu vos exorto, pelo nome do Senhor nosso, Jesus Cristo, a que sejais todos concordes uns com os outros e não admitais divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos e concordes no pensar e no falar. 11Com efeito, pessoas da família de Cloé informaram-me a vosso respeito, meus irmãos, que está havendo contendas entre vós. 12Digo isto, porque cada um de vós afirma: “Eu sou de Paulo”; ou: “Eu sou de Apolo”; ou: “Eu sou de Cefas”; ou: “Eu sou de Cristo”! 13Será que Cristo está dividido? Acaso Paulo é que foi crucificado por amor de vós? Ou é no nome de Paulo que fostes batizados? 17De fato, Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar a boa nova da salvação, sem me valer dos recursos da oratória, para não privar a cruz de Cristo da sua força própria. – Palavra do Senhor.
Evangelho: Mateus 4,12-23
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus12Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galileia. 13Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galileia, 14no território de Zabulon e Neftali, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: 15“Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galileia dos pagãos! 13O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz, e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz”. 17Daí em diante Jesus começou a pregar dizendo: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. 18Quando Jesus andava à beira do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. 19Jesus disse a eles: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”. 20Eles imediatamente deixaram as redes e o seguiram. 21Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João. Estavam na barca com seu pai Zebedeu consertando as redes. Jesus os chamou. 22Eles imediatamente deixaram a barca e o pai, e o seguiram. 23Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo. – Palavra da Salvação.

REFLEXÃO DA PALAVRA: A CONVERSÃO É UM FOCO DE LUZ QUE CARECE SER ALIMENTADO DIARIAMENTE.
A prisão de João Batista marca o fim da manifestação de Deus através da atividade profética, e inicia uma nova e definitiva fase desta mesma manifestação, que culminará numa compreensão acerca da conversão que vai além da simples remissão dos pecados; entende-se aqui que a conversão é, pois, uma exigência para que se edifique o Reino de Deus inaugurado na encarnação do Cristo, divino Verbo. Conversão torna-se então, objeto de escolha, de possibilidade; não mais um preceito, como condição única para se livrar da ira de Deus, conforme pregava os profetas, dado a ênfase do discurso de João Batista; porém, não deixa de ter como princípio a “metanóia”, ou seja, a transformação radical do pensar e do agir, em especial dos que foram batizados, nos quais, com a proposta de Jesus, tal conversão, torna-se um processo de contínua evolução, que perpassará por toda a vida, iniciada a partir da imediata aceitação do chamado que Jesus faz, a exemplo do que acontecera aos apóstolos: “imediatamente deixaram as redes e o seguiram [...] imediatamente deixaram a barca e o pai, e o seguiram” (Mt 4,20.22). Por isso, com o Cristo, o objeto de salvação, não é mais aquele que se considera desde já, um convertido, mas aquele que inicia uma caminhada de conversão. A própria comunidade de Mateus irá testemunhar adiante, nas palavras de Jesus, a quem se reservará a salvação: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mt, 9,13). Relembrando pois, a reflexão do último dia 09 de janeiro, ao celebrarmos o Batismo do Senhor, quando definimos que justo é quem se dispõe a “livremente ajustar-se à vontade de Deus”, podemos compreender por que se faz referência, tanto na primeira leitura quando no Evangelho, às regiões de Zabulon e Neftali, às margens do mar da Galiléia, donde Jesus, precisamente na cidade de Cafarnaum, inicia sua pregação; esta era uma região tenebrosa para os judeus da diáspora, era o caminho pelo qual os impérios dominantes retiravam a elite do povo, na condição de escravos, ou seja, os que pensavam e os que produziam, enquanto que os demais: mulheres, crianças, doentes e idosos, uma vez considerados improdutivos, permaneciam abandonados no país, todo destruído pela invasão. È natural que na concepção profética, a salvação se iniciaria por esta região, com a manifestação do Messias; é isto que o Evangelista nos quer transmitir com a frase: “Para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías” (Mt 4,14), profecia proclamada, portanto, há aproximadamente 700 anos antes do nascimento de Jesus. Onde se via somente trevas e tristeza, Jesus torna-se a manifestação da luz e por isso, da felicidade plena (cf. Is 9,2), esta nova condição é motivada, sobretudo, pela esperança renovada na conquista da liberdade, esperança que por si só, propicia a restauração da dignidade de ser humano, não mais da condição degradante de escravos, outrora, entregues a morte e ao sofrimento.
Mar da Galiléia
Luz e trevas correspondem então, a um antagonismo fundamental; quando surge a luz, as trevas se dissipam e é quando são reveladas as nossas misérias; de fato, a ação do pecado está encerrada na escuridão; se bem que, atualmente temos visto tantos pecados sendo realizados à luz do dia mesmo, dado o estágio de banalização da ética e do crescente desrespeito para com o semelhante… Ainda assim, este é o terreno propício para que a ação salvadora do Senhor se realize, ou seja, este nosso mundo todo destruído pelo pecado, ainda é nossa tenda, lugar onde todos os seres humanos co-habitam, convivem, e deveriam fazê-lo de forma harmoniosa, no respeito mútuo e na colaboração, tendo como fundamento e padrão mesmo, o Reino anunciado por Jesus, do qual infelizmente, vivemos um paradoxo, e não raramente, também nas nossas comunidades de fé. Ante este problema, Paulo nos exorta à unidade “no pensar e no falar”; este é o autêntico testemunho do Reino, enquanto a divisão, pelo contrário, é contra-testemunho que afinal, atrapalha a obra redentora de Deus para com toda a humanidade.

Por outro lado, unidade não é o mesmo que unicidade; enquanto o primeiro se baseia no princípio da inclusão, da acolhida, o segundo quer impor uma uniformidade de pensamento a qual não aceita e por isso mesmo quer eliminar o diferente… Nossas comunidades, pastorais e movimentos, têm de refutar a unicidade para que não se tornem células de ditadura, formadas, sobretudo, por pensamentos unívocos, absolutos; por ser luz na sociedade, a exemplo do Mestre, deve denunciar toda ação que escraviza, anunciando ao mesmo tempo a liberdade a qual Cristo mesmo deu a sua própria vida. Do contrário, a história não nega; toda sociedade dividida é fragilizada e muito provavelmente tornar-se-á escravizada por um império mais poderoso.

Por fim, conforme nos quer transmitir o salmista, esperar no Senhor com coragem, é uma exortação e um convite a agirmos com audácia profética, realizando em primeiro plano, a vontade de Deus, e não a nossa, neste mundo de tantas lutas, de onde mesmo, na sua realidade, todo batizado é chamado a transformá-lo com amor, testemunho e perseverança, no Reino anunciado pelo próprio Cristo, promessa divina para toda a humanidade.

Um fraternal abraço.

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