quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

09/01/2011 - BATISMO DO SENHOR - ANO A





REFLETINDO A PALAVRA

  • 1ª Leitura: Isaías 42,1-4.6-7
  • Salmo Responsorial: 28(29)
  • 2ª Leitura: Atos dos Apóstolos 10,34-38
  • Evangelho: ateus 3,13-17
BATISMO DE JESUS: SOLIDARIEDADE COM A HUMANIDADE PECADORA.

Ao livremente se apresentar para o batismo no rio Jordão, Jesus provoca de imediato a incompreensão de João Batista; faltava-lhe a condição básica para que recebesse o batismo de conversão: o pecado, condição comum naqueles que frequentemente eram batizados e que, praticamente os obrigavam a recebê-lo como meio para conquistar uma suposta salvação dos pecados cometidos; todos queriam ser batizados para fugir da “cólera vindoura” (Mt 3,7), ou seja, da justiça que Deus eminentemente realizaria num breve período. Este conceito pré-messiânico do batismo, fundado na conversão, não estava totalmente errado, de fato, na história da humanidade, e em seu próprio significado, batismo refere-se a um ritual de iniciação, muito comum nas sociedades primitivas. Ainda hoje, sociedades indígenas realizam rituais de iniciação aos jovens que, atingindo uma idade considerada madura, iniciam sua vida adulta, assumindo responsabilidades que até então não lhes eram cobradas. Na sociedade dita civilizada, na qual vivemos, há alguns acontecimentos na vida que também se referem aos rituais de iniciação: formatura, alistamento militar, puberdade, acontecimentos que marcam o início de uma nova fase da vida de determinada pessoa.
Dado em Jesus não haver a limitação do pecado que fundamentasse o início de uma conversão, o sentido do batismo assume um caráter de profunda sacralidade. Ao mesmo tempo em que se torna uma epifania – tal como vimos na Sagrada Liturgia do último domingo –, ou seja, a auto-manifestação da natureza divina do Cristo, por meio de sinais que, sacramentam sua divindade sem descaracterizar sua natureza humana, como o Espírito de Deus que, em forma de pomba, lhe pousa sobre a cabeça, e a Palavra do Pai a Ele dirigida: “Este é meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado” (Mt 3,17), revela também, a extensão de sua missão divina, indicada inclusive pelo próprio nome: Cristo, que significa, “Aquele que ungiu, Aquele que foi ungido e a própria Unção com que ele foi ungido [...] Aquele que ungiu é o Pai, Aquele que foi ungido é o Filho, e o foi no Espírito, que é a Unção” (Catecismo da Igreja Católica-438).
No batismo, pois, Jesus é apresentado como o próprio Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, e inicia-se doravante, não uma vida de conversão, mais sim, uma vida pública, de autêntica opção pelos pobres e pecadores, solidarizando-se completamente com o destino deles; cumprindo assim toda a justiça (cf. Mt 3,15), Jesus se ajusta e submete à vontade do Pai – por que justiça nada mais é do que livremente ajustar-se à vontade de Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica-536) –; no batismo Jesus aceita a sua condição de servo sofredor, sabendo que sua missão se cumprirá na consumação de sua própria vida como oferta de sacrifício, afim de redimir do pecado, toda a humanidade; um alto preço para se resgatar a dignidade humana até então maculada pelo pecado original.


Para nós, cristãos, uma vez “sacramentalmente assimilados a Jesus” (Catecismo da Igreja Católica-537), ou seja, configurados a Cristo, este mistério torna-se bastante comprometedor; segui-lo exige que “cada batizado solidariza-se com a vida de Jesus e deve seguir o mesmo caminho de entrega total por amor [...] reflexo da entrega do Pai à humanidade para salvá-la do pecado, do egoísmo e do desamor” (Andrade, A.L.P. Roteiros Homiléticos. Revista Vida Pastoral, ano 52, nº 276, São Paulo: Paulus, jan-fev/2011, p. 48).
O batizado tem, pois, como missão irrecusável, a defesa da vida em qualquer condição e fase em que ela ocorra, ainda que lhe custe algum prejuízo; estar batizado requer então, a livre aceitação da vontade de Deus e a prática constante da missão que o Espírito concede para que se cumpra toda a justiça; em suma, é o que quer nos ensinar a Liturgia do Batismo do Senhor, celebração que marca, ao mesmo tempo, o encerramento do Tempo do Natal e início do Tempo Comum, um tempo de caminhada.

Vale resgatar o pensamento de São Gregório Nazianzeno (329-389): “Sepultemo-nos com Cristo pelo Batismo, para ressuscitar com Ele; desçamos com Ele, para ser elevados com Ele; subamos novamente com Ele, para ser glorificados nele” (Orações 40,9 – trecho citado no Catecismo da Igreja Católica-537).

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