sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

REFLEXÃO DA PALAVRA: 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B – 29/01/2012: A PALAVRA NOS LIBERTA, TRANSFORMANDO AS RELAÇÕES QUE EMBASAM A NOSSA VIDA

4º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B - 29/01/2012
(Verde, Glória, Creio, IV Semana do Saltério)

1ª Leitura: Deuteronômio 18,15-20
Salmo Responsorial: Sl 95(94),1-2.6-7.6-9 (R. 8)
2ª Leitura: 1Coríntios 7,32-35
Evangelho: Mc 1,21-28

A PALAVRA NOS LIBERTA, TRANSFORMANDO AS RELAÇÕES QUE EMBASAM A NOSSA VIDA

A função primordial do profeta é anunciar por meio da Palavra, que a manifestação de Deus se realiza em meio às nossas fragilidades, e esta manifestação é forte o suficiente para nos restaurar, seja no âmbito individual, seja no social. Evidentemente que esta missão não despreza o contexto social ao qual se está inserido; o autêntico profeta não está de forma alguma desconectado dos acontecimentos na sociedade, ou seja, àquilo que os sinais dos tempos evidenciam.

Na Antiga Aliança, especialmente na fase que segue entre a reforma religiosa do Rei Josias (+/- 620 a.C.) e o exílio babilônio (586-538 a.C.), período que corresponde ao auge do profetismo em Israel, Moisés torna-se o modelo de profeta para os que assumissem tal missão, estes deveriam possuir fielmente as características de servo e porta-voz do Senhor, tal como Moises: "Farei surgir para eles, do meio de seus irmãos, um profeta semelhante a ti. Porei em sua boca as minhas palavras e ele lhes comunicará tudo o que eu lhe mandar" (Dt 18,18). Esta promessa do Senhor segue, pois, a um pedido do próprio povo que temia uma relação direta com Deus; sabiam que diante da santidade extrema do Senhor e de sua pureza, a raça humana pecadora não poderia subsistir. O profeta vem com a missão de intermediar esta relação e não possui autoridade própria, muito embora se isente da responsabilidade caso não seja ouvido pelo povo (cf. vs. 19-20). O salmo reforça a obrigação que o povo tem de atender as palavras do profeta; ouvir implica obedecer sem restrições para transformar a realidade de dor e sofrimento em justiça e paz, por isso a frase que compõe o refrão: "Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!" (94/95, 8) é o próprio Senhor que levanta a voz ante o louvor e culto que se inicia. Também o salmista faz referência a Deus que se manifesta no rochedo, conforme descrito no livro do Êxodo; a ligação é evidenciada com a evocação à Massa-Meriba, onde segundo consta, o povo teria duvidado da presença do Senhor e como prova, a partir da ação de Moises, seu profeta, fez brotar água - do batismo - de dentro da rocha onde se encontrava, como sinal de que Ele se manifesta até mesmo na rocha maciça (cf. Ex 17,6-7).

A partir do momento em que nos fechamos aos ensinamentos do Senhor, também nós nos tornamos rochas duras, e ainda assim, Deus habita o nosso interior e realiza a graça necessária para que se torne conhecido a nós. Mas este conhecer-se se dá por meio da revelação de um mistério existencial. Nem todos são capazes de compreender e enxergar claramente a presença do Senhor, Paulo se preocupa com esta dificuldade que surge por conta das preocupações do dia a dia e, em sua Carta aos Coríntios, na pequena perícope que a Segunda leitura nos apresenta neste domingo, nos dá um conselho pastoral e bem pessoal, acerca do celibato, isto é, da opção livre por não contrair o matrimônio, como forma de aprofundar a relação com o Senhor e melhor se dedicar à sua proposta libertadora, longe das preocupações que o mundo impõe. Evidentemente, Paulo não condena a vida matrimonial, ao contrário, nos quer mais livres para servir e reconhecer o Senhor.

Toda via, ao profeta, Jesus não dá o direito de O desvelar, por isso, no Evangelho de Marcos, é clara a repreensão que faz, primeiro aos espíritos imundos, que o reconhecem por que se veem ameaçados em seu poder, que exercem no centro político-religioso: a sinagoga de Cafarnaum, mantendo as pessoas alienadas, depois àqueles que são curados pelos milagres que realiza e depois ainda seus seguidores, que são proibidos de o apontar como o "Filho do Homem"; ao profeta cabe apenas e tão somente anunciar a possibilidade da Salvação, por meio da presença eficaz do Senhor que intervém em nossa dura realidade histórica que propicia muito mais a morte do que promove a vida. Evidentemente que a ação do profeta pressupõe sinais que revelam esta presença divina, são os milagres presentes na ação de Jesus e na ação dos discípulos missionários que seguem no decorrer da história da Salvação e na vida da Igreja, mais tais sinais não são o princípio da ação profética, e não emanam da vontade do profeta, e por isso não podem ser colocados sobre o anúncio, sob o risco da soberba e do orgulho que matam a unção de seu ministério, tornando-o nulo e, portanto, repugnante ao Senhor.

Se antes, Moises era o exemplo para os profetas que surgiam, hoje, a ação de Jesus, seu anuncio e sua prática, são modelos que os profetas contemporâneos têm por base para marcar a sua atuação evangélica no mundo que se apresenta com inúmeros desafios para a definitiva libertação do mal.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário