quinta-feira, 17 de março de 2011

DESCER A MONTANHA PARA A PRÁTICA DE UM MINISTÉRIO MADURO E CONSCIENTE ORDENADO À CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MELHOR.


20/03/2011 – 2º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA – ANO A

PRIMEIRA LEITURA (Gn 12,1-4a)
Leitura do livro do Gênesis1Naqueles dias, o Senhor disse a Abrão: “Sai da tua terra, da tua família e da casa do teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar. 2Farei de ti um grande povo e te abençoarei: engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma bênção. 3Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão abençoadas todas as famílias da terra!”. 4E Abrão partiu, como o Senhor lhe havia dito. Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL 32/33
Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, / venha a vossa salvação!
1. Pois reta é a palavra do Senhor / e tudo o que ele faz merece fé. / Deus ama o direito e a justiça, / transborda em toda a terra a sua graça.
2. Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem / e que confiam, esperando em seu amor, / para, da morte, libertar as suas vidas / e alimentá-los quando é tempo de penúria.
3. No Senhor nós esperamos confiantes, / porque ele é nosso auxílio e proteção! / Sobre nós, venha, Senhor, a vossa graça, / da mesma forma que em vós nós esperamos!
SEGUNDA LEITURA (2Tm 1, 8b-10)
Leitura da Segunda Carta de São Paulo a Timóteo. Caríssimo: 8sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus. 9Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não devido às nossas obras, mas em virtude do seu desígnio e da sua graça, que nos foi dada em Cristo Jesus desde toda a eternidade. 10Esta graça foi revelada agora, pela manifestação de nosso Salvador, Jesus Cristo. Ele não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho. – Palavra do Senhor.
EVANGELHO (Mt 17,1-9)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus. Naquele tempo, 1Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. 2E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. 3Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. 4Então Pedro tomou a palavra e disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. 5Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” 6Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. 7Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos, e não tenhais medo”. 8Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. 9Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do homem tenha ressuscitado dos mortos”.Palavra da Salvação.
REFLEXÃO DA PALAVRA: DESCER A MONTANHA PARA A PRÁTICA DE UM MINISTÉRIO MADURO E CONSCIENTE ORDENADO À CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MELHOR.
Ao tomar consigo seus discípulos Pedro, Tiago e João e levá-los a um local mais alto, ou seja, a montanha, a intenção de Jesus não centrava em realizar uma ação sobrenatural, objetivando a provocar uma admiração sensacionalista naqueles que por Ele mesmo seriam constituídos os pilares do cristianismo. Antes, o relato de tal acontecimento, em Mateus, tem o propósito pastoral de testemunhar a máxima divindade de Jesus que, transfigurado, atualiza o mistério da revelação dada anteriormente em Moisés.
Como em Moisés, a revelação de Deus na história humana, não se dá sem a participação do homem; este não é estático, deve participar de sua história e também da sua história de salvação, construindo-a, inicialmente pela disponibilidade em ouvi-lo para em seguida segui-lo; Deus conduz a história daqueles que o seguem. Assim acontece com os discípulos de Jesus que por ele são conduzidos a uma experiência mística inédita até então, ou seja, sua transfiguração. Para aqueles que o seguiu, Jesus antecipa a ressurreição e se manifesta aqui, toda a sua glória; ainda que num breve momento, a humanidade de Jesus é superada; Tendo predito aos discípulos a própria morte, Jesus lhes mostra, na montanha sagrada, todo o seu esplendor. E com o testemunho da Lei e dos Profetas, simbolizados em Moisés e Elias, nos ensina que, pela Paixão e Cruz, chegará à glória da ressurreição” (Prefácio - MR, p. 188). A oração é condição fundamental para testemunhar esta manifestação gloriosa; Lucas, em meio aos evangelhos sinóticos, será o único a enfatizar esta condição: “... E subiu a montanha para orar” (Lc 9,28).
E oração requer disponibilidade do fiel, não somente para transcender-se, ou seja, para entrar em relação com o ser divino o qual confia, mas principalmente para realizar a vontade desta divindade, a missão que certamente irá requerer; a missão dada por Deus a Abraão fora de fundar um povo, com identidade de nação, e para isso o primeiro passo seria abrir mão do conforto e do sossego de sua casa e, portanto, de sua própria nação: Sai da tua terra, da tua família e da casa do teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar” (Gn 12,1); está em jogo aqui, a confiança naquilo que não se tem certeza de sua existência; São Paulo dirá que isto é a fé: “Uma certeza a respeito do que não se vê (Hb 11,1).
Para nós que, por herança do judaísmo, somos monoteístas, ou seja, acreditamos num Deus único e soberano, de quem emana a vida na sua essência, a confiança é fundamental e a oração imprescindível; é da oração que surgirá a confiança assim como, é da pregação, exercida em razão da Palavra, que se irá prover a fé (cf. Rm 10,17) e a fé autêntica é que nos capacitará a sermos como herdeiros de Abraão, peregrinos, nossa missão está inserida no tempo e no espaço, ou seja, neste mundo e é transfigurá-lo no Reino proposto por Jesus. Descer a montanha implica, após uma relação amorosa com Deus na prática da oração, a qual nos permite conhecê-Lo transfigurado em sua glória e poder, colocar em prática os dons obtidos e não acomodá-los nas tendas de nossa aparente segurança, e isto é santificar a nossa vocação, esta é a exortação de ânimo que Paulo dirige não a pessoa de Timóteo, mas à comunidade a qual dirigia (cf. 2 Tm 1,9).
Comunidade Todos os Santos e Mártires - Residencial Olímpia, Campinas/SP
(acervo pessoal)
Neste sentido, a oração que possui um caráter individual, como apelativo às meras necessidades do ego, dirigidas estritamente na primeira pessoa: “eu”, “meu”, não tem sentido para Jesus, uma vez que ele mesmo testemunha a santa providência do Pai e sabe das necessidades pessoais de cada filho seu: “Não temais, pois! Bem mais que os pássaros valeis vós” (Mt 10,31); se nossa oração ainda estiver fechada em si mesmo, isto é um desvio de conduta e um pecado, que carece então uma conversão pessoal, uma transfiguração; esta seria, portanto, a proposta deste Segundo Domingo da Quaresma.
Uma feliz e santa quaresma a todos e todas.
OREMOS: Ó Deus, que nos mandastes ouvir o vosso Filho amado, alimentai nosso espírito com a vossa palavra, para que, purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho na unidade com o Espírito Santo. Amém!

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