sexta-feira, 11 de março de 2011

QUARESMA É MOMENTO DE DESERTO, OPORTUNIDADE ÍMPAR DE CONVERSÃO.

13/03/2011 – 1º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA – ANO A 

PRIMEIRA LEITURA (Gn 2, 7-9 ; 3, 1-7)
Leitura do Livro do Gênesis. 7O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente. 8Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado. 9E o Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso ao paladar, a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. 3,1A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comereis de nenhuma das árvores do jardim?’” 2E a mulher respondeu à serpente: “Do fruto das árvores do jardim, nós podemos comer. 3Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele nem sequer o toqueis, do contrário, morrereis’”. 4A serpente disse à mulher: “Não, vós não morrereis. 5Mas Deus sabe que no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como Deus conhecendo o bem e o mal”. 6A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para se alcançar conhecimento. E colheu um fruto, comeu e deu também ao marido, que estava com ela, e ele comeu. 7Então, os olhos dos dois se abriram; e, vendo que estavam nus, teceram tangas para si com folhas de figueira. – Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL 50/51
Piedade, ó Senhor, tende piedade, / pois pecamos contra vós!
1. Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! / Na imensidão de vosso amor, purificai-me! / Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai completamente a minha culpa.
2. Eu reconheço toda a minha iniquidade, / o meu pecado está sempre à minha frente, / foi contra vós, só contra vós que eu pequei / e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!
3. Criai em mim um coração que seja puro, / dai-me de novo um espírito decidido. / Ó Senhor, não me afasteis de vossa face / nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!
4. Dai-me de novo a alegria de ser salvo / e confirmai-me com espí­rito generoso! / Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar / e minha boca anunciará vosso louvor!
SEGUNDA LEITURA (Rm 5, 12-19)
Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos. Irmãos, 12consideremos o seguinte: O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram... 13Na realidade, antes de ser dada a lei, já havia pecado no mundo. Mas o pecado não pode ser imputado, quando não há lei. 14No entanto, a morte reinou, desde Adão até Moisés, mesmo sobre os que não pecaram como Adão, – o qual era a figura provisória daquele que devia vir. – 15Mas isso não quer dizer que o dom da graça de Deus seja comparável à falta de Adão! A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem mais superior, que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos. 16Também, o dom é muito mais eficaz do que o pecado de um só. Pois a partir de um só pecado o julgamento resultou em condenação, mas o dom da graça frutifica em justificação, a partir de inúmeras faltas. 17Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. 18Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida. 19Com efeito, como pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça. – Palavra do Senhor.
EVANGELHO (Mt 4, 1-11)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus. Naquele tempo, 1o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. 2Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome. 3Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” 4Mas Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’”. 5Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo, 6e lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”. 7Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’” 8Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória, 9e lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar”. 10Jesus lhe disse: “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto’”. 11Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus. – Palavra da Salvação.

REFLEXÃO DA PALAVRA: QUARESMA É MOMENTO DE DESERTO, OPORTUNIDADE ÍMPAR DE CONVERSÃO.
Iniciamos nossa caminhada de conversão rumo a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, com Ele, também a nossa. Isto é para nós, motivo de muita alegria, uma vez que Deus nos concede mais uma vez em nossa história, a possibilidade da salvação a teofania acontece no nosso ciclo histórico; este é tempo da graça, o kayrós, que não se deve deixar de agarrar como numa oportunidade única e fugaz que nos é apresentada, entre tantas dificuldades do nosso cotidiano. Esta teofania, ou seja, manifestação do próprio Deus na nossa história, e pessoalmente na nossa vida, é resultado de um profundo e puro amor do Criador para com toda a sua criação, entre elas a sua maior obra de arte: o ser humano; amor este que, mesmo não sendo merecedores, é capaz de gerar vida em nós, ou melhor, de nos tirar da morte e nos tornar novamente seres viventes (cf. Rm 5,17b).
Fato é que o pecado, a princípio, se apresenta como algo “atraente para os olhos e desejável para se alcançar conhecimento” (Gn 3,6); para os que vivem alheios à Palavra, ou seja, para os que não a conhecem, as tentações que se apresentam durante a vida tornam-se um perigo e uma cilada, tal como buscar o conhecimento meramente humano; à primeira vista parece que o conhecimento soluciona todos os nossos problemas, no entanto, todas as análises de conjuntura, se bem ponderadas, apontam para uma falência do sistema político e econômico adotado pelas sociedades em geral, com rescaldo na ordem moral instituída, ou seja, o pecado ainda hoje nos impele para o abismo da morte, torna o povo triste e apático. Para a superação desta realidade, a quaresma é oportunidade que o próprio Deus concede a todos, mediante a exigência de que cada um, individualmente, abra o coração para a Palavra, aceite e pratique todas as orientações que dela provém, uma vez que é na Palavra que está o autêntico conhecimento, aquele calcado na sabedoria divina; Quaresma é tempo de escuta e aprendizado da Palavra, mas é tempo também de profunda e piedosa oração contemplativa; esta é a proposta do salmista quando dirige suas preces na primeira pessoa do singular: “purificai-me”; “lavai-me”; “apagai [...] minha culpa”; “Eu reconheço”; e assim por diante, temos aí uma preciosa oração de humildade, de quem se reconhece necessitado da misericórdia de Deus para viver plenamente.
Adão era a “figura provisória” da Palavra (cf. Rm 5,14), ou seja, “daquele que devia vir”, o Verbo Divino, não conhecia, portanto, a Palavra na sua essência, por isso não tinha condições de impor autoridade a fim de contrapor a investida da serpente, que da mesma forma atenta a Jesus, mas Jesus que é a própria Palavra, e responde ao tentador por meio da Palavra (cf. Mt 4,4.7.10), de forma autoritária e consciente, não é como em Adão e Eva, que facilmente são convencidos de que poderiam ser como Deus (cf. Gn 3,5), simplesmente por ter adquirido o conhecimento; observe que em Jesus, o mesmo tentador, que agiu em Adão, utiliza-se da Palavra, demonstra-se conhecedor dela, e a utiliza para tentar confundir suas vítimas em meio às fragilidades da vida: “... depois disso teve fome [...] o tentador aproximou-se...” (Mt 4,3). Da mesma forma acontece conosco hoje, quando estamos mais fragilizados é que sofremos as tentações: perda da esperança, da alegria de viver, vontade de abandonar tudo, até a vida; não raro tantos irmãos são acometidos daquela que chamamos de doença do século, ou seja, a depressão, doença que mais mata neste mundo moderno, este mundo, aliás, que pela ação dos homens, em nada se parece com o Éden, descrito no texto da criação (cf. Gn 2,8-9).
A Campanha da Fraternidade 2011: “Fraternidade e a Vida no Planeta”, lança um apelo para uma conversão mais profunda, na dimensão individual e coletiva, trazendo a constatação que a própria Palavra de Deus faz: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22). Este é um convite à reflexão acerca de nosso comportamento, muitas vezes irresponsável, que tem em muito agredido ao jardim que o Senhor nos concedeu para bem administrá-lo e destruído a vida, ao invés que favorecê-la, deixando de promover o bem estar de toda a criação para atender interesses de poucos. Mas é também um alento de esperança, uma vez que se a criação geme em dores de parto é por que uma nova vida pode surgir, ainda que o homem olhe para si e enxergue somente a sua nudez, que em suma é a evidência do pecado, Deus ama com profundo amor toda a sua criação, e ama a cada um de nós.
Seja então esta Quaresma, tempo oportuno para esta descoberta da Palavra, somente assim a Páscoa de Jesus será também a nossa Páscoa, oportunidade única de ressurreição.
Paz e bem a todos e todas.

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