sexta-feira, 25 de março de 2011

MESMO DE ROCHAS, DEUS FAZ MANAR ÁGUA EM ABUNDÂNCIA

Sabemos que a água é essencial para a manutenção da vida; não há quem dela não precise, seja para matar a sede, seja para preparar o alimento ou ainda para a higiene pessoal. Por ser tão necessária é que Deus constituiu a água como meio de purificação, e será utilizada para o ritual do batismo. Jesus fora batizado nas águas do Rio Jordão e após sua transfiguração ele mesmo se apresenta através do diálogo com a samaritana, como a água viva, da qual nenhum de nós, após bebê-la, jamais sentirá sede, pois seremos plenamente purificados de todo pecado.

Entretanto, Jesus não se refere à sede natural do homem, que de temporariamente, assim como a fome, sendo necessidades fisiológicas, devem ser supridas a fim de garantir a continuidade da vida; a água, que sacia a sede, e o alimento, que sacia a fome, sendo constituídos de matéria, estão sujeitos à decomposição, tal como nosso corpo; por mais que se beba água e por mais que se alimente, após algumas horas, precisamos voltar as fontes novamente; este ciclo não terá fim enquanto perdurar a vida. A esta perspectiva da fragilidade humana, Jesus mesmo acena quando ao se aproximar do poço, local de descanso e restabelecimento das energias, sob o sol escaldante do meio dia e em pleno deserto, pede água à samaritana, que não lhe atende, pois está presa às regras pré-estabelecidas de relação social: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?” (Jo 4,9); esta então, se caracteriza como uma primeira barreira contra a relação fraterna e, portanto, contra a manifestação da graça divina, mas Jesus obviamente não desiste de conquistar o coração humano, ainda que incrustado pelo pecado e pela divisão: “Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva” (v. 10), ou seja, se de fato a samaritana conhecesse a Deus, beberia da fonte, a água que saciaria nela mesma a sede de amor, uma carência afetiva devido a discriminação social da época por ser samaritana, considerada impura pelo povo judeu.
É deste profundo conhecimento o qual provem de uma relação amorosa com Deus, que surgirão os verdadeiros adoradores, isto é, aqueles que superando a admiração inerte avançam para a prática libertadora que a construção do Reino exige: o testemunho até as últimas consequências, tal como fez o próprio Jesus. Aos que criarem esta consciência, os dons de Deus lhes serão derramados com abundância a ponto de experienciar a comunhão total em Deus superando os limites da natureza humana; evidentemente nos referimos à vida eterna em Deus.
A murmuração contra as dificuldades da vida, bastante presente na primeira leitura, é consequência da perda de confiança em Deus, grande pecado que nos mantém afastados da graça divina, o que torna o nosso fardo mais pesado ainda durante a caminhada no deserto. Somos convidados a dar uma pausa diante da fonte, que é a comunidade, para beber da água viva que é o próprio Jesus, para que nossas forças sejam restabelecidas. Esta água poderá brotar, até mesmo, de corações endurecidos como rocha; não podemos desconfiar do poder que Deus tem de restaurar a nossa vida nem sempre conforme à sua vontade. Vale a pena considerar as palavras de Paulo na Carta aos Romanos: “... a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. [...] quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado” (Rm 5,5-6); se nossa fé, para nós se tornar fonte de esperança nos mistérios que não conhecemos e ainda transformar-se em prática contínua de caridade em favor dos mais necessitados, saberemos que nossa adoração estará um pouco mais próxima daquilo que Jesus exige, isto é, “os adoradores que o Pai procura” (Jo 4,23).
OREMOS: Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indi­castes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão da nossa fraqueza, para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confor­tados pela vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho na unidade com o Espírito Santo. Amém!

Fraternal abraço a todos e todas.

Jesuel Arruda

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