sexta-feira, 29 de julho de 2011

REFLEXÃO DA PALAVRA XVIII DTC - A PARTILHA, AÇÃO CONCRETA NA SUPERAÇÃO DA FOME E DA POBREZA

XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
31/07/2011 – Ano A – cor: verDE

PRIMEIRA LEITURA: Isaías 55,1-3
SALMO RESPONSORIAL: 144/145
SEGUNDA LEITURA: Romanos 8,35.37-39
EVANGELHO: Mateus 14,13-21

A PARTILHA, AÇÃO CONCRETA NA SUPERAÇÃO DA FOME E DA POBREZA
A fome no mundo moderno é uma das maiores preocupações, ao mesmo tempo em que se torna a maior de nossas deficiências, uma vez que nem governo, nem sistema político e econômico se viu capaz de solucionar tal problema, que diríamos, tem seu caráter estrutural; paradoxalmente, se pode compreender que a pobreza e a fome devem existir para que tais sistemas e governos se fundamentem na história humana. Talvez por isso mesmo se tornem bandeiras de qualquer político; ainda que iniciante ou mesmo sem experiência, a fome e a pobreza estão presentes nos seus discursos inflamados, que ao fim, não apontam para nenhuma ação concreta, no sentido de eliminar o que podemos chamar de câncer de nossa sociedade.
A lógica é sempre a mesma, onde existe um bolsão de pobres e famintos, este pode ser politicamente convertido num ótimo bolsão de eleitores que farão a diferença no glorioso momento da contagem dos votos, basta que o político consiga coloca-los no “cabresto”. E a argumentação ideológica para esta metamorfose política é sempre o combate ao princípio fundante desta, quando não há compra e venda do voto por meio de algum mimo, ou migalha necessária à vida do eleitor. Por isso, não se iludam, enquanto houver sistema econômico fundado na exploração do homem pelo homem, não haverá cura para este dois males, simplesmente por não haver empenho dos políticos neste propósito, e por que o interesse pessoal sobressai ao social.
“Na sociedade capitalista mede-se o valor da pessoa pelas suas posses, e o consumo de certos bens representa uma situação de prestígio, de “sucesso”, de ascensão social e de poder econômico e, no caso dos países subdesenvolvidos, uma forma de identificação com o modo de vida dos países desenvolvidos.” (Melhem Adas in A fome: crise ou escândalo? 1988, p. 62)
Se na lógica do capitalismo, as pessoas são reconhecidas como tal, pelo que possui, cabendo aos despossuídos, isto é, aos pobres e famintos a margem da sociedade, a lógica de Jesus é lançada na contramão desta triste história; a partilha é o grande milagre, pra não dizer a grande saída, desta escandalosa degradação da pessoa a qual se tornou a fome e a pobreza na sociedade humana, mas até o evento da multiplicação dos pães, o qual o próprio Jesus é o protagonista, ainda que, sem a compreensão e apoio da comunidade dos discípulos: “Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões para que possam ir aos povoados comprar comida” (Mt 14,15), mesmo após testemunharem as curas que realizou durante toda a tarde, é questionada como acontecimento histórico real, por conta do distanciamento com a transcendência tão inerente à condição existencial humana; “... é precisamente o divino que consente à natureza humana tomar em consideração os deveres desinteressados no que se refere ao próximo” (Pontifício Conselho “Cor Unum”. “A Fome no mundo. Um desafio para todos: O desenvolvimento solidário”, Cidade do Vaticano, 4 out 1996). Somente os homens e mulheres que possuem a experiência com o divino são capazes de combater as situações que gerem a morte e revertê-las em promoção da vida; se para os apóstolos, testemunhas vivas do Cristo, fora difícil dar o passo em direção ao projeto do mestre (cf. Mt 14,16), quem dirá para o homem contemporâneo, em especial aos líderes políticos, sujeitos à crescente secularização cultural, que pregam e praticam o estado laico, totalmente dissociado de qualquer resquício de espiritualidade.
A exigência do testemunho solidário, a rigor, se faz às comunidades de fé, principalmente a nós que nos denominamos cristãos; esta é sem dúvida, a razão da importante atitude do mestre Jesus, que não condena seus discípulos, ao contrário os exorta, quando por condições humanas, vacilam: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!”, indaga Jesus, sustentado pela ação prática de elevar a matéria, ou seja, os “cinco pães e dois peixes”, que os discípulos consideram mais como uma limitação do que uma virtude: “Só temos aqui...” (v. 18), à transcendência: “... Ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção” (v. 19). A sequência do relato evangélico nos lembra a Eucaristia, de fato, é neste sacramento que a ação de Jesus está eternizada em nossa realidade; quem dera os líderes políticos, mundo afora, fundados na Eucaristia, consagrassem todo o fruto da terra a Deus e distribuísse equitativamente toda a produção de alimentos entre todos, certamente estaria erradicada a fome, mas ao invés disso, se consagra o alimento tão necessário à manutenção da vida ao deus dinheiro, promovendo daí, o acúmulo, a injustiça e a miséria.
Por se considerar a Igreja, “perita em Humanidade”, necessariamente está impelida, segundo o pensamento do “papa do povo” a “alargar a sua missão religiosa aos vários campos em que os homens e as mulheres desenvolvem as suas atividades em busca da felicidade, sempre relativa, que é possível neste mundo” (JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Sollicitudo rei socialis, 1987). Nestas palavras, documentadas pela sagrada tradição da Igreja, se faz ecoar serenamente, a exortação de Jesus aos seus discípulos atuais: “DaI-lhes, vós mesmos de comer”; ignorar tais ensinamentos, nos faz refletir sobre a afirmação do Concílio Vaticano II: “Alimenta o que morre de fome, porque se não o alimentaste, mataste-o” (Gaudium Et spes, 1965).
OREMOS: Manifestai, ó Deus, vossa inesgotável bondade para com os filhos e filhas que vos imploram e se gloriam de vos ter como criador e guia, restaurando para eles a vossa criação, e conservando-a renovada. Por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!

Fraternal abraço!

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