sábado, 22 de outubro de 2011

REFLEXÃO DA PALAVRA - XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A - 23/10/2011

XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM – 23/10/2011

PRIMEIRA LEITURA: Êxodo 22,20-26
SALMO RESPONSORIAL: 17/18
SEGUNDA LEITURA: 1 Tessalonicenses 1,5-10
EVANGELHO: Mateus 22,34-40

DISSOCIADA DO FUNDAMENTO DO AMOR, A LEI SE TORNA INCONCISTENTE E EFÊMERA; FONTE DE CORRUPÇÃO

Muito tenho observado, especificamente na escola onde atuo como agente de organização, uma enorme tensão entre o que deve ser feito e o que de fato se faz em favor do outro, em especial aos mais fragilizados, aos que normalmente, não se dá valor.
Vivemos atualmente a lei da vantagem, da individualidade e da exclusão, e de forma impensada e mecânica, consequência de uma cultura que não promove a vida, pois é uma cultura do descartável; tudo e todos são descartáveis, a começar das pessoas que se relacionam conosco, uma vez que o valor está no ter e não no ser.
Neste contexto, o amor tornou-se mercadoria de troca, de barganha, e a ordem do dia está em tirar vantagem da fragilidade do outro que sofre; o amor como condição do servir ao outro gratuitamente ficou fora de moda, e quem serve o outro sem nada exigir é considerado como um tolo. No campo político ainda isto se torna mais latente; o normal nos parece ser o governante corrupto, a menos que seja pego, seja com dinheiro na cueca, ou numa auditoria; não é difícil encontrar pessoas comentar: “besta! Foi pego por que não soube fazer direito, merece ser punido!”, ou então, “se eu fosse político faria o mesmo, mas melhor, sem deixar rastro”. Certamente algum de nós já ouviu uma conversa desta, que se fossemos analisar calmamente, nos deixaria muito triste, porque sabemos, não é ético e não está de acordo com o projeto de vida eterna que Deus quer para nós; como seria o paraíso com tais comportamentos? Como o paraíso é este mundo mesmo que Deus criou, sabemos muito bem como estamos, vivemos diariamente nossos dramas, mas não podemos jamais perder a esperança.
Deus não desiste do homem, este é a razão de sua existência; o salmista, neste trecho da liturgia, expressa este amor visceral, entranhado, que deveria ser correspondido numa relação ambígua entre Criador e criatura; a rocha exprime a firmeza, a solidez ou a imutabilidade de Deus nesta relação de amor; a fragilidade está no ser humano, que procura a Deus e nesta rocha, tem seu refúgio; o refúgio do ser humano não está, portanto, nas relações de poder, mas nas práticas de amor e de caridade dirigidas gratuitamente ao irmão: “Não oprimas, nem maltrates o estrangeiro [...] Não façais mal algum à viúva nem ao órfão” (Ex 22,20.21), estas são orientações que de fato contraria uma cultura fundada na obtenção da vantagem sobre o mais fraco, no entanto avançam também para a questão financeira, e que se confirma pelo versículo 24: “Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, a um pobre que vive a teu lado, não sejas um usurário, dele cobrando juros”; e aqui está uma orientação que fundamentou toda uma disputa na Idade Média e que culminou na cisma da reforma protestante, encabeçada por Lutero, e que o capitalismo nascente soube muito bem apropriar-se para enfim tornar-nos o que somos hoje.
É por isso que Paulo insiste na conversão, processo que se dá pelo abandono dos falsos deuses (cf.1Ts 1,9), e o dinheiro, se idolatrado é fatalmente um falso deus, que ao invés de gerar vida, pode ser fonte de morte e destruição; mas como sobreviver num mundo fundado na economia financeira? Partilhando nossos dons, ou seja, os frutos de nosso trabalho; e isto só se acontece, por meio de uma profunda experiência de amor, exercício de vida comunitária, a qual nos propicia conhecer a Deus e amá-lo e a partir daí amar a quem Deus ama, o outro. Sem este condicionamento do amor, não há lei que regule totalmente as relações interpessoais, e não há ninguém que possa promover a justiça tal como Deus imagina.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo

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