sábado, 25 de fevereiro de 2012

REFLEXÃO DA PALAVRA - I DOMINGO DA QUARESMA - ANO B - 26/02/2012

1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B - 26/02/2012
(Roxo, Creio, Prefácio próprio, I Semana do Saltério)

1ª Leitura: Gn 9,8-15
Salmo Responsorial: Sl 24/25
2ª Leitura: 1 Pd 3,18-22
Evangelho: Mc 1,12-15

QUARESMA: INICIATIVA DA DIVINA MISERICÓRDIA EM RESTAURAR AS RELAÇÕES ABALADAS PELAS INFIDELIDADES DOS HOMENS AO AMOR.

Nega-se quem considera a conversão, resultado de uma iniciativa pessoal, motivada, sobretudo, por nossa vontade e pela liberdade que temos de não mais aceitar e realizar atos que ferem a dignidade humana e destroem a vida, não somente da criação humana, mas de toda a biodiversidade a qual esta vida se encontra presente.
Não é sem pensar que a Liturgia do tempo quaresmal se inicia com a reflexão do Livro de Gênesis, nome, que na sua etimologia quer dizer início; o início da vida marcado como ato criador de Deus, não como fato hitórico-científico, mas como relato de fé, compreendido a partir de um pensamento místico e espiritual, capaz de racionalizar aquilo que a ciência se limita a afirmar, pois não pode comprovar pela sua investigação sistemática e rigorosa.
Esta criação divina, com certeza, inicialmente realizada para a completa felicidade, aquela mesma que o pensamento racional diz não existir, pois, a felicidade, para este mundo, que se considera moderno não passa de fragmentos constituídos de pequenos momentos de felicidade, uma vez que na forma a qual se vive nesta sociedade, os momentos de infelicidade, pra não dizer desespero, ocorrem com muito mais frequência do que os momentos de felicidade, que não são puros, por ser uma felicidade contaminada, corrompida, sobretudo pelas condições do ter do que do ser; “considero-me feliz quando me encontro na segurança que este mundo me oferece” afirma o senso comum, no entanto esta sensação é sempre falsa, uma vez que se pensa essencialmente no caráter individual e não coletivo, isto é, não se concebe a existência e os direitos do outro também ser feliz; não raramente, para obter a felicidade nestas perspectivas, requer a anulação do outro, e anular o outro é o mesmo que eliminá-lo, e eliminação é pressuposto de morte. Quando anulamos alguém, de certa forma o matamos, ainda que não haja comportamentos de violência explícita.
“Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados” (1Pd 3,18). Os pecados a que Paulo se refere, não são os pecados dos nossos antepassados, mas são os nossos pecados atuais e futuros que ferem e continuarão ferindo de morte, seja o Filho de Deus, que vive a glória da eternidade, sejam os filhos de Deus, uma vez que vivendo uma comunhão com o Cristo, tanto este quanto aquele, são partes de um mesmo corpo, de um só corpo, o Corpo de Cristo, a Igreja e sua Cabeça.
Assim, a conversão do pecador não é produto da vontade do pecador, mas é iniciativa da graça misericordiosa do Senhor que pela ação do Espírito Santo motiva e leva o pecador a relacionar-se novamente com o amor, é pois, o Espírito, aquele vento impetuoso que um dia adentrou as narinas daquele que era apenas matéria e encheu-o de vida (cf. Gn 2,7): “Então Iahweh Deus modelou o homem com argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente”. O pecado tem como principal característica levar a criatura à condição anterior de ter se tornado um vivente, então, um não vivente. Para Paulo, a água do batismo não é suficiente para restaurar plenamente a condição de vivente da criatura, esta condição só pode ser restaurada pela unção do Espírito. É no espírito que, Jesus humano, é levado ao deserto, e lá, entre as feras selvagens (cf. Mc 1,13) e as tentações de sua materialidade – sede, fome, esgotamento físico-emocional, desolação e profunda tristeza – é revestido de força e poder para assumir seu ministério, o qual se inicia com a pregação da Palavra.
Que esta quaresma seja o nosso deserto espiritual, onde se revelam a nós mesmos, todas as nossas misérias e limitações e dele possamos sair completamente restaurados pelo ânimo do Senhor, o hálito da vida entre também em nós, Senhor!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Bibliografia:

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

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