sábado, 11 de junho de 2011

REFLEXÃO DA PALAVRA - DOMINGO DE PENTECOSTES

DOMINGO DE PENTECOSTES – ANO A – 12/06/2011
Vermelho – prefácio próprio – ofício da solenidade

QUE O ESPÍRITO NOS UMA NUM SÓ CORPO

A novidade do anúncio da salvação com Jesus Cristo tem assumido uma nova roupagem, isto é, um novo caráter, o da acolhida; se no Antigo Testamento a pedagogia da Lei, diga-se de passagem, necessária à educação do povo acerca da revelação divina, a qual implica na valorização da pureza, podendo incorrer-se facilmente, por meio da interpretação e prática comum, à exclusão dos que não se enquadravam neste padrão pré-definido, doravante, Jesus revela a Deus como o próprio amor, capaz de incluir todos os que são considerados diferentes e por isso mesmo são relegados à margem na comunidade. Se antes, a pregação do Evangelho, isto é, o anúncio era destinado somente aos que compreendiam a linguagem por meio de um comportamento puro, o que tendia à separação (cf. Gn 11,9), agora sim, o Evangelho se torna acessível a todos e, por meio da linguagem do amor, é instrumento de unidade a todos os homens, muito embora o Espírito agora, oposto ao episódio de Babel, os suscite falar em “outras línguas” (At 2,4); lá em Babel, a diversidade de línguas, fora motivo de divisão, agora é de compreensão; destarte, em Pentecostes, a confusão se da porque, sem compreender o motivo, todos, inclusive os povos pagãos, são capacitados a entender a pregação no seu próprio idioma (cf. v. 6), como que se houvesse uma tradução simultânea, similar às existentes nas grandes conferências internacionais. O diferencial é que esta nova linguagem está fundamentada no amor, e o amor, todos são capazes de compreender com a própria sensibilidade, o que de fato não acontece onde impera o desamor, e isto não é maravilhoso?
O resultado não poderia ser outro; num mundo onde há uma multidiversidade, o Espírito é o estímulo que a Igreja possui para viver a unidade: “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito” (1 Cor 124) “... um mesmo é o Senhor” (v. 5) “... um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos” (v. 6), e tudo isso para que se forme um único corpo onde todos tem a sua devida e particular importância. De fato, quando falta um membro é que se vê a sua importância no corpo, ao mesmo tempo em que se constata que nada poderá substituir ao que falta, veja a vesícula, por exemplo, a rigor, um indivíduo pode muito bem sobreviver sem este órgão, no entanto na sua falta, o sistema digestivo é sobrecarregado, uma vez que faltará ao sistema a bílis, enzima responsável por “quebrar” as moléculas de gordura em nosso organismo; o mesmo acontece com o menor membro da Igreja; sua falta faz falta. Neste aspecto, é o Espírito Santo que agrega e dá liga aos membros, uma vez diversificados, há que se mantém unidos em torno da Palavra. É este testemunho que nossas comunidades de fé devem testemunhar, às vezes com lágrimas e sofrimentos, isto é com nosso próprio martírio, para que o Reino de Deus, do qual deveríamos ser o reflexo, se torne uma realidade.
O anoitecer, a que se refere o Evangelho, corresponde ao arrefecimento da fé, provocado na comunidade primitiva, mas não raramente, nas atuais também, pelo medo e pelo desânimo em anunciar o Evangelho a quer pensamos não querer ouvir, e no mundo secularizado como o nosso, falar do Evangelho torna-se um trabalho árduo e penoso; em meio a estas diversidades, Jesus mesmo nos oferece a paz: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19.20). A comunidade, porém, precisa reconhecer Jesus, este se revela mediante sua identidade; não um ente sobrenatural, mas tem na sua essência a humanidade... Somente o homem possui identidade (humanidade e espiritualidade). Por isso Jesus pode transmitir ao homem aquilo que fato o complementa, isto é, o Ruah, o Espírito de Deus que concede a paz e a vida em plenitude, e com isto, inclusive o poder de perdoar os pecados, de usar de misericórdia com o outro.
Por isto oremos: Ó Deus, que pelo mistério da festa de hoje, santificais a vossa Igreja inteira, em todos os povos e nações, derramai por toda a extensão do mundo os dons do Espírito Santo, e realizai agora no coração dos fiéis as maravilhas que operastes no início da pregação do Evangelho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho na unidade do Espírito Santo. Amém!

Feliz Pentecostes a todos e a todas.

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